segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

(Escrevo): "Conto que não é Conto" (I)

Apenas... Palavras!

“Quero palavras. Apenas palavras. Não poemas. Quero prosas, contos. De imaginação nascidos. De emoção forrados”.
Naquele dia, este fora o desafio proposto. “E agora!?”, questionei. “Agora amanha-te”, respondi. Escreve todas as palavras que te assaltarem a mente e não hesites em prendê-las no papel se sentires que te tentam fugir.
Mata todos os espaços em branco, afogando-os em rios de tinta preta até deslumbrares algumas letras confusas, boiando nas tuas folhas. Beija as tuas palavras enquanto o teu coração segura a caneta na boca.
Resolvi escrever umas letras na expectativa que se unissem e dessem algum sentido a uma frase. Esgoto-me em tentativas. Tento escrever, tento dizer. Lê-se. Aquilo que escrevo lê-se. Apenas. Naturalmente, não sou escritor.
Vai-se lendo como uma receita médica passada pelo senhor doutor de Medicina Interna, com aqueles hieróglifos ilegíveis, que nem o senhor João da farmácia entende.
Vai-se escrevendo como um anúncio de jornal, com um sorriso enorme que me atravessa a face e não como um Eça de óculo no olho direito e um bigode que se retorce enquanto lança letras e frases subtis, mas relampejantes, um verdadeiro senhor doutor das Letras.
Dores... sinto-as e já nem suspiro de tanta agonia. Não sei por onde começar, não percebo como fazer, mas aqui estou, sozinho, em frente ao computador. Perco-me por entre palavra, somente palavras.
Teclas e mais teclas que se rebaixam no conforto dos meus dedos, recriando pensamentos que surgem fortuitos no ecrã. Palavras que se escrevem e que se apagam sem deixar rasto, sem memória de terem um dia existido. Encontros e desencontros. Palavras que voltam pra serem lidas e sentidas. Folhas em branco que carregam em si a memória de páginas soltas. Palavras que por mim deslizam, concentrando-se nas pontas dos dedos ansiosos por derramar escrita de sentires, num caudal silencioso, mas pleno de emoções.
Por fim, um conjunto de palavras. Desconexas, vazias de sentido, sem direção. Não é um conto, nem sequer uma história. São, apenas traços, pinceladas. Não tenho ritmo de escrita. Não tenho tempo, nem jeito.
E eu preocupado com a falta de pontuação, as vírgulas no seu lugar. Calma... talvez ninguém leia isto.

Viro uma página.
Gonçalo Nunes

2 comentários:

  1. Lembro-me do tempo ido (talvez tivesse menos uns anitos que tu) em que a mesma inquitude me assolava.
    Ver o retrato dos meus pensamentos - em forma de frases, sobre um papel branco.
    Recupero as letras escritas outrora, num caderno que guardo religiosamente e releio passados estes quase 20 anos!
    Há muito que perdi essa energia da escrita, ocupada pelas correntes do dia a dia.
    Obrigada por me teres devolvido à memória essa parte de mim...
    Embora adormecida, hibernada, ainda hoje sinto a sensação de "alívio" interior após o último ponto final.
    Pois te digo, que lidas ou não por outros, as nossas palavras escritas ajudam-nos, ajudam a congelar o presente para o futuro.
    Beijo Grande.
    Tia Sofia.

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  2. that's it! obrigado titia! para a semana "lanço" mais um! beijo grande para graúdos e miúdos aí em casa!

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