O estranho seduz-me. O intrigante perturba-me.
Ao ponto de ser sádico e perverso este sentimento que tanto me delicia. Aprecio tudo o que me confunde.
Ao ponto de ser sádico e perverso este sentimento que tanto me delicia. Aprecio tudo o que me confunde.
E questiono-me:
serei um engenho explosivo prestes a detonar, num corpo refém e mártir pela sua causa ou compete-me controlar a explosão atómica de sentires e pensares que em mim habita?
serei um engenho explosivo prestes a detonar, num corpo refém e mártir pela sua causa ou compete-me controlar a explosão atómica de sentires e pensares que em mim habita?
O que sinto contigo comparo-o à estrutura do cosmos: duas
partículas atómicas, viajam num espaço comum, a velocidades alucinantes. Eu,
eletrão. Tu, protão. Por mais variadas que sejam as nossas trajetórias! A
tendência será a estabilidade máxima, aquando da união do sentimento que nos é
comum (?) Chamem-lhe presunção, cá para mim acredito (duvido?) que é apenas a
lei da física, que também é química, explosiva, aplicada as leis da atração, do
amor. Sabes, é que se já há poucos eletrões, mais raros são aqueles que me
atraem como tu o fazes.
Diz a física, que se tu, protão, estivesses inerte no espaço
e chocasses comigo, eletrão, dar-se-ia um choque tremendo e, consequente um
afastamento entre nós, com a minha projeção para bem longe de ti. Se bem me
conheço, voltaria a ser atraído, chocaria de novo e voltaria a afastar-me. Mas
tu, protão, não estás parada, muito menos sozinha. Viajas no espaço a
velocidade indescritível, sempre acompanhada de outras partículas em constante
reação que te tentam seduzir. Acredito que os ignores, julgando pelo jogo
atómico que fazes comigo. Fazes-te valer desses olhos e olhares hipnotizantes,
atrais-me para um ponto do espaço onde já não estás no momento seguinte. E
voltas a fazê-lo num outro ponto do espaço. E voltas a fugir, sucessivamente.
Neste “toca e foge” atómico, quem corre por gosto não cansa,
mas faz umas interrupções estratégicas. Nesta equação, há que contar com uma
inércia de revolta na resposta do eletrão à reação do protão. Isto, porque, se
não houvesse tal resistência e a resposta fosse instantânea, o eletrão chocaria
com o protão, num choque que ditaria um afastamento em definitivo.
O que é fácil, conquista-se e perde-se, ainda mais, facilmente.
O que é fácil, conquista-se e perde-se, ainda mais, facilmente.
A verdade é que o choque entre mim, protão e tu, eletrão,
será sempre de grande impacto! Cabe-te a ti, no teu “toca e foge” e a mim, no
meu “pára e arranca”, tornar esta sádica energia que nos envolve, numa reação
a(mor)tómica que carrega tanto de intrigante como de cativante e apetecível!
Chocamos?
Chocamos?
Gonçalo Nunes, 2013.