Estranho acordar. Estranha brisa matinal. A saudade
abateu-se sobre mim, tal e qual uma tempestade que se abate sobre o mar! Se,
até então, não se haviam levantado quaisquer ondas, eis que me vejo envolvido
pela agitada maré da saudade. Desnorteado e em alto mar. Um náufrago. Dei à
costa... desamparado, ainda combalido! Enveredo pelas tormentas do pensamento,
da saudade. Recomeço a navegar. Qual Álvares Cabral!? Qual tradição marítima
lusitana!? Saudade não é lenda como reza. A melancolia da lembrança dos entes
queridos deixados para trás, ainda hoje a voltei a sentir. É passado, presente e futuro.
Consciente da inconsciência da saudade, inicio o
meu diário de bordo. Letra a letra, palavra a palavra, frase a frase, folha em
folha. E lanço a garrafa ao mar, a cada dia que passa, a cada risco traçado. E
aguardo, esperançado que dê à costa e vá se atracar nas mãos dos que “saúdo”! E
continuo a escrever, sem saber se naufraguei, ancorei ou, simplesmente, “matei
a saudade”...
Gonçalo Nunes
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