sábado, 24 de novembro de 2012

(Escrevo.Sinto.Partilho): "Invergasmo".

"Aprecio o misticismo das noites invernais!
A ansiedade dos pés gélidos pela penetração no tórrido calor de umas pantufas.
O prazer da unicidade do toque de cada pingo de chuva no vidro de uma janela.
A vítrea perversão pelo compassado escorregar de cada gota, como se de uma dança erótica se tratasse.
O ar provocador com que as chamas de uma lareira estimulam e seduzem o olhar. A cumplicidade de um manto envolto num corpo. A devassidão no toque de uma mão com um curvilíneo copo de vinho. A satisfação pelo suave contacto do fumo de um cigarro nos lábios. A impressão de prolongamento das sensações, como se o tempo se expandisse em si mesmo.

Noites aquecidas pelo frio. Noites iluminadas pela escuridão. Noites ruidosas de tanto silêncio. Noites de reflexão. Noites de contemplação. Noites de imaginação. Noites de sedução. Noites de satisfação. Noites… de inverno".

GN, 2012.

sábado, 20 de outubro de 2012

(Escrevo.Sinto.Partilho): "Ensaio sobre o Amor. Cegueira sobre a Justiça"".


Quero acreditar que a justiça é prova cabal de que o amor é cego.
Consenso, procuro-o, perante olhares de suspeição. Compreendo a desconfiança. Ao escrever na primeira pessoa, torno-me o principal suspeito. Mas,  in dubio pro reo... Farei o que estiver ao meu alcance, farei força probatória do que afirmo, na esperança que seja pleníssima! Apresento-me como suspeito, traço o meu perfil, apresento o meu motivo, defendo-me perante a lei... da vida... do amor! Suspeito, investigador, advogado. Encarno, à medida que as peles se soltam do meu corpo. E renascem. E voltam a cair. Para que no fim, se prove que por muitas peles que caiam, a veracidade do sentimento se mantém intacta.
Caindo a pele do suspeito, abrem-se os poros ao investigador.
Perfilo-me como um banal rapaz, nos seus 20 e poucos anos, mas já com uma personalidade vincada. Capaz de tudo por aquilo que acredito. O amor é uma delas. Senão a capital. É esse o meu motivo para o crime, o amor que nutro por ti, a vítima.
Altura de analisar o modus operandi.
Aliciamento! Invasão de coração privado! Posse ilegal de amor! Assalto de coração desarmado. Sequestro. Tentativa de fazer do teu coração refém do meu. Mantive e mantenho, o meu refém do teu. Prometi e disse a verdade, só a verdade e nada mais do que a verdade. Por traços sinuosos, picos altos e baixos, passei no teste do polígrafo.
Reunidas todas as provas, cai mais um pedaço de pele. Avizinha-se o julgamento final. Sobra-me a pele de advogado, no calor da paixão. Defendi o que sinto com todas as minhas forças. Foi um longo caminho. Penoso? Não direi!
Proferi as minhas alegações finais, entreguei-me em jeito de confissão.
Cabe-te a ti julgar ou ser julgada...
Em primeira instância, caso queiras julgar, corro o risco de ser ilibado por instabilidade emocional e psicológica. Corro o risco de cumprir um pesada pena... na solitária solidão.
Em segunda instância, cabe-te a ti ser julgada... Com que fundamento? Basta seres minha cúmplice neste crime passional!
Ad eternum?

(Vejo.Sinto.Partilho): "A" U "B"!


domingo, 12 de agosto de 2012

(Escrevo. Sinto. Partilho): Na crista da saudade...


Estranho acordar. Estranha brisa matinal. A saudade abateu-se sobre mim, tal e qual uma tempestade que se abate sobre o mar! Se, até então, não se haviam levantado quaisquer ondas, eis que me vejo envolvido pela agitada maré da saudade. Desnorteado e em alto mar. Um náufrago. Dei à costa... desamparado, ainda combalido! Enveredo pelas tormentas do pensamento, da saudade. Recomeço a navegar. Qual Álvares Cabral!? Qual tradição marítima lusitana!? Saudade não é lenda como reza. A melancolia da lembrança dos entes queridos deixados para trás, ainda hoje a voltei a sentir. É passado, presente e futuro.
Consciente da inconsciência da saudade, inicio o meu diário de bordo. Letra a letra, palavra a palavra, frase a frase, folha em folha. E lanço a garrafa ao mar, a cada dia que passa, a cada risco traçado. E aguardo, esperançado que dê à costa e vá se atracar nas mãos dos que “saúdo”! E continuo a escrever, sem saber se naufraguei, ancorei ou, simplesmente, “matei a saudade”...
Gonçalo Nunes

sábado, 30 de junho de 2012

(Leio.Sinto.Partilho): Addicted to...

"Love is like a narcotic. At first it brings the euphoria of complete surrender. The next day, you want more. You’re not addicted yet, but you like the sensation, and you think you can still control things. You think about the person you love for two minutes, and forget them for three hours. But then you get used to that person, and you begin to be completely dependent on them. Now you think about him for three hours and forget him for two minutes. If he’s not there, you feel like an addict who can’t get a fix. And just as addicts steal and humiliate themselves to get what they need, you’re willing to do anything for love."

- Paulo Coelho, By the River Piedra I Sat Down and Wept

(Leio.Sinto.Partilho): Ms. a.k.a Miss!

"Don't ever tell anybody anything. If you do, you start missing everybody."
- J. D. Salinger, The Catcher in the Rye

sexta-feira, 15 de junho de 2012

(Leio.Sinto.Partilho): "Be" vs "Seem to Be"

“Though my friends envied me because I always seemed so cheerful and confident, I was secretly terrified of practically everything.” 
- Erica Jong, Fear of Flying

quinta-feira, 10 de maio de 2012

(Leio.Sinto.Partilho): Let's do it ! ?

"Do not wait until the conditions are perfect to begin. Beginning makes the conditions perfect."
- Alan Cohen

segunda-feira, 12 de março de 2012

(Escrevo): "12pm: it's MiDnight!"

"Hora de dormir. Enfim... Mais uma luta. Corpo e mente numa anárquica harmonia. Corpo cansado. Mente cansada. O corpo pede descanso. Resposta!? A mente não dá descanso. Tentativas sucedem-se. Viro-me de um lado para o outro. Insuportável! Irrequieto! Todo o som me desperta! Todo o som me põe alerta! Toda a luz são olhos postos em mim! Toda a luz me incomoda! Olhos bem abertos. Pupilas dilatadas. Hora de engolir tudo. Muita a agitação. Garrafa de água. Comprimido. Dormir? Procuro! Merecido descanso.

P.s: não me queixo das noites mal passadas, pelo menos mantenho-me vivo e vivas as histórias da minha vida noturna. Histórias escritas em curtas frases para ti que as lês e que já as sabes da frente para trás (!) e de trás para a frente (?)... Fica o desafio!"

Gonçalo Nunes

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

(Escrevo): Conto que não é conto (IV)

 As páginas em branco que conto...

Hoje é o dia da decisão. Abortar ou terminar.
A missão mais difícil de sempre. Deste “sempre” imediato. Subtraio-me por momentos ao dia já declinante. No cume da cidade eufórica, alheio ao frenesim e à música emanante das atuações, medito. Meditação interrompida pela abrupta ordem final. Inevitável. Peço, ainda, ao tempo a solenidade possível. Hesitante, faço sem pensar aquilo que sei melhor.
Esperam-me as letras finais, ansioso de me encontrar na sua aparente desordem. Aguardam-me as palavras, sabendo que não sei se consegui.
É, então, que me sento e agarro a minha melhor caneta, apontada a uma folha em branco disposta a ser esculpida. Repito-me em ridículas frases demasiados vistas. Invento uma história já vista e contada. Descubro na minha mente frases que se fingem nunca antes imaginadas. E falseio prosas escritas por mão indecisa. Inspiração que se esfuma como o fumo que perfuma coisa nenhuma. Palavras que chegam e partem sem passaporte. A ponta fina da caneta rabisca, imprevisível, sem rumo ou direção, linhas sempre iguais.
Mais uma folha de papel que cai no chão.
Tento escrever, mas a teimosia da caneta não me permite tal acto. Por vezes, os pensamentos são mais rápidos que o tempo real e acabo por perdê-los.
Brinco com as palavras! Escrevo todas as que me dizem algo na altura e tento construir um final... mas, uma vez mais, a folha de papel teima em deleitar-se no chão.
Conseguirei alguma vez chegar a um final feliz? 
Conseguirei alguma vez descrever através da escrita o imenso mar de sentimentos que habita a minha alma? 
Conseguirei alguma vez encontrar as palavras certas que desnudam os meus sentidos? Ou serão sempre fantasias minhas destinadas a viver unicamente em mim?
É... solto mais uma folha de papel que, para não variar, acaba por se entregar no chão.
As palavras estão gastas, velhas e cansadas.
E, assim, me sento a olhar para elas.
Agastado, velho e cansado de criar banalidades, decido queimar tudo o que escrevi e entregar-lhe uma folha em branco!
Assim, ao menos, estaria certo de que seria original!

Gonçalo Nunes

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

(Escrevo): Conto que não é conto (III)



A melodia das palavras...

É cedo demais para nada, é tarde demais para tudo.
Resisto mais duas páginas.
E fez-se dia, bem antes da minha vontade.
Embalo a insónia com vícios urbanos e ocupo a mesa do canto. É aqui que escrevo. Nuvens de fumo enegrecem o papel. Bloco de notas, mais bloco que notas e a caneta emprestada.
E nada. Tantas vezes nada para dizer. E escrevo. A minha vida não a conto. Imagino, então, outras mais literárias. Personagens interessantes, em histórias que não as minhas. É a velha história, “tenho um amigo que”... é muito parecido comigo.
Apenas escrevo. Debruçado nesta mesa do café da Faculdade.
O dia madrugador despertou-me da rara apatia noturna em que estava submerso.
Agora que os primeiros bocejos de sol parecem despertar o meu sono adormecido, é hora de fechar o meu bloco de notas, devolver a caneta a não sei quem que “ma” emprestou e voltar ao mundo lá fora. A normalidade do meu ser não me permite ser de outra maneira.
Fecho o bloco e vou para a aula.
Anfiteatro. Fui ao quadro, transcrever transgredindo como mandam as regras e, sentado de novo, penso num escrito louco que me soe a palavras, a tempo, a história...
Escrevo mais uma linha no bloco que comigo caminha. Fiz pontos finais em sítios diferentes, coloquei vírgulas e acentos, retirei algumas exclamações e escrevi.
Outra folha que rasgo a cada final.
Precisava de alegrar as tristes palavras e ideias que ouvia. Gostava de escrever com música. Que houvesse uma música qualquer nas minhas palavras. Que a folha branca fosse uma pauta na qual disponho as notas, agora, palavras. Gostava que quem me lesse, ouvisse a música. Sentisse. Uma música qualquer que me ajude a continuar. Que me ensine a tocar as notas certas. A pautar, as palavras certas.
Gostava que essa música surgisse devagar, ao ritmo da escrita, na melodia da leitura. Que se instalasse de forma imperceptível. Que diluísse quem escreve, que entrasse no ouvido de quem lê.
Suave... como um gesto de ternura.


Gonçalo Nunes

domingo, 22 de janeiro de 2012

(Oiço.Sinto.Partilho): R7, boa noite, até amanhã. have a "wonderful night"!

(Leio. Sinto): it's never too late to learn! thanks (and f***) life for teaching me!

“One of the hardest things to teach a child is that the truth is more important than the consequences.” 
- O. A. Battista

(Escrevo): "Conto que não é Conto" (II)


Apenas... Palavras?

Era capaz de jurar a pés juntos que não foi mais do que um piscar de olhos entre a eternidade e o fim. Foi assim, sem mais nem menos. Escrever é a liberdade de sentir e viver os meus sonhos. Porque é assim que tudo começa. Ou acaba... Num piscar de olhos! O coração salta e não sabe o que sente. Bate e rebate, soluça, mexe, remexe, balança da esquerda para a direita e em sentido contrário, cambaleando como um relógio ancorado em mim. E eu, sozinho, nesta consulta interior.
E recomeço.
E a mão, que procura a caneta e os dedos para nela e no papel se entrelaçarem, tenta adornar escritos, frases. Não necessariamente com sentido, mas que apaguem ou afaguem a memória.
Vou desarrumando o passado e despenteando o presente e escrevo porque me apetece implodir, retalhar a construção das palavras, as frases e as pontuações, os parágrafos imensos.
Emaranho os meus sentimentos com recordações das coisas. Coisas tão minhas, coisas tão próprias, coisas da vida, com tanta vida.
E delicio-me com o silêncio. Deixo que o cansaço se esvaia no tom amarelado dos sorrisos que me rodeiam.
Assim como o silêncio é tecido de subtis sonoridades, também a escrita é tecida de luminosos silêncios. E tudo o que disser ,ou não, estará sempre em segundo plano, por mais que me esforce, ou não, por dizê-lo. Porque as palavras pouco mais são do que fracos ecos de outros ecos, de tudo o que só poderá ser dito uma e outra e, ainda, outra vez.
Escreverei sempre, mesmo que nenhuma voz se levante e aplauda. Escreverei o que sinto, o que vivo, mesmo que o significado apenas esteja dentro de mim. Escreverei até que as minhas forças não mais existam, mesmo que nada signifique para quem com os olhos passe por estas malditas palavras dentro de mim.
Malditas palavras que não me dão descanso, que de nada valem, que de nada me servem. Malditas palavras às quais estou preso. Das quais não me consigo livrar.
Maldito seja eu, preso a palavras ditas, a palavras sentidas, situações espelhadas em palavras vividas, no silêncio do meu caminho.          
E, somente a Lua ficou, para me olhar distante, tentando descobrir se aguentaria uma noite mais, de solidão, de palavras.

Gonçalo Nunes